terça-feira, 13 de novembro de 2007

A menina de sardas no nariz

Ele mal ouviu o que foi falado na reunião. Instruções lhe eram dadas, dicas, orientações, todas explicadas com um manual em mãos; e ele quase não prestou atenção em nada. Parou de ouvir quando ela entrou na sala e sentou na mesma fileira em que estava, do outro lado do corredor. Ela era linda e o deixou hipnotizado, bobo e desatento. Tudo que ele conseguia fazer era olhar para ela, que, por sua vez, nem o notou. Seus cabelos castanhos e levemente ondulados, traços delicados, sardas no nariz e o corpo magro, porém com todas as formas generosas o faziam pensar que a tinha desenhado em sua mente e estava tendo algum tipo de alucinação. Passou aquela hora inteira admirando aquela que poderia até ser uma projeção de sua imaginação, mas que calhava ser real e estava ali, a um corredor de distância, vestida em um estilo interessante, que ajudava a despertar ainda mais sua curiosidade sobre quem era aquela menina.
Deixou o local sem saciar nem um décimo sequer de sua curiosidade. Não trocou olhares com ela e nem sabia seu nome. Apenas guardou aquela imagem na lembrança, desejando vê-la outra vez, para que pudesse descobrir se a realidade se encontraria com sua imaginação de maneira harmônica. Deixou o tempo passar. Deixou que os meses trouxessem novidades para ocupar o espaço da perda de tempo que era pensar naquela menina de sardas no nariz. E os meses, de fato, trouxeram boas novas. Emoções diferentes que tiveram espaço suficiente para iniciar e terminar. Algumas desaparecendo, outras se transformando. A imagem da menina, porém, mesmo que ainda um pouco fraca, continuava lá, impressa em sua memória.
Eis que um bom tempo depois, ele a viu novamente. Lá estava ela, linda como antes, do outro lado da sala. Ela olhava em sua direção, mas não parecia estar olhando para ele - ou ele evitou acreditar que ela de fato estaria olhando para ele. Parecia estar olhando para o nada, com o pensamento longe. Ele olhou reto em sua direção e, tomado por uma força maior do que sua própria capacidade de discernimento, resolveu levantar e atravessar a sala para dizer 'oi'. Foi bem recebido, afinal era eloqüente e descontraído. Ao conversar com ela, olhou em seus olhos e notou que eram azuis, de uma tonalidade linda, e eram enormes - ele adorava meninas com olhos grandes -, talvez tão enormes quanto sua personalidade, que lhe parecia agradável.
Era estranho, porém, ter aquela expectativa toda a respeito de alguém que nem sabia que ele existia. Ele percebeu na hora o contraste absurdo entre o que estava acontecendo e o que ele gostaria que acontecesse. Sabia que para ela aquela conversa era nada além de uma tentativa de fazer amizade. Ciente disso, ele não quis parecer nenhum tipo de louco, que havia desenhado alguém em sua mente e projetava nela. Resolveu se livrar de suas projeções e tentar perceber o que de fato era real. E gostou do pouco que pôde conhecer da menina. Achou seus gostos interessantes e até um pouco compatíveis com os dele. Desejou ter conhecido mais do que teve a oportunidade de conhecer. Quis saber de camadas mais profundas da personalidade dela, mas infelizmente se ateve ao superficial, pois tentou deixar a expectativa de lado e agir como se age quando se conhece alguém novo. Considerou a hipótese de ela nem sequer ter interesse algum, não partilhar da mesma atração que ele sentia. Não podia, contudo, evitar de olhar para ela e imaginar que talvez ela fosse do jeito que ele gostaria que a menina de seus sonhos fosse. Isso soava exagerado, ele sabia, mas a sensação era a de uma ilusão gostosa.
Entretanto, não foi além disso, de algumas horas de conversa informal que o deixaram novamente com aqueles desejos - talvez um pouco diferentes, mas da mesma sorte - do dia em que a viu pela primeira vez. Agora era a vez do tempo entrar em cena e surpreendê-lo novamente. Decidiu imprimí-la mais uma vez em sua memória e esperar. Pretendia dar os 'empurrõezinhos' que pudesse para que as circunstâncias a colocassem novamente em seu caminho, mas lembrou que a expectativa doce era toda e somente sua. Foi viver emoções diferentes, novas, pra passar o tempo até que a menina de seus sonhos o hipnotizasse novamente - com aquele ou qualquer outro rosto, com ou sem sardas no nariz.

4 comentários:

Alexandre Conrado disse...

=) Quero encontrar a minha menina de sardas no nariz!

Carolzinha. disse...

blargh...
...meloso²³.

cute, hã?
tomara que vcs se batam nos states.


bjos

Ana Karina Silva disse...

achei tão lindo... =)

Anônimo disse...

óóóónnn... q mimo...