terça-feira, 28 de julho de 2009

A Marolinha

É esperado que as poucas linhas que seguem provoque alguma reação por parte dos zumbis que ainda acreditam que a bandeirinha vermelha com estrela amarela no meio seja realmente a salvação do Brasil. Creio que seja preciso, portanto, deixar claro que não falo sob a égide de nenhuma bandeira além daquela tecida pelo que observo no dia-a-dia.

Nada mais justo que um país de iletrados tenha como Chefe de Estado um representante dessa mesma espécie, ou pior, um governante que se orgulha dessa condição. Quem não faz parte das classes menos privilegiadas já notou que o Brasil tem se tornado no país da esmola: ganha-se esmola para por os filhos dentro de uma sala de aula, ganha-se esmola por não trabalhar, ganha-se esmola por fazer filhos e, mais recentemente, ganha-se esmola para ir ao cinema, teatro etc.

Voltando a questão do analfabetismo, seguindo o caminho da máxima que diz que o "pior cego é aquele que não quer ver" é possivel pensar que o pior analfabeto é aquele que não quer aprender. O nosso Chefe de Estado chegou onde está após uma vida sofrida como metalurgico, filho de uma família pobre que sequer tinha o que comer, quem diria que se interessaria em aprender algo. Mas ele aprendeu, soube com maestria movimentar e arrebanhar o povo, fazer com que as pessoas lutassem pelos seus ideais, que abandonassem a passividade e erguessem as suas enxadas contra um governo explorador, e toda aquela história que já conhecemos muito bem.

Ano de 2009, dois anos de mandato olha quem está lá abraçadinho com a passividade? O Senado desmoronando, Sarney roubando sob suas barbas, escândalos que, de tão frequentes, nem escandalizam mais, e onde está nosso Chefe de Estado? O vice-presidente acometido de câncer - sabe-se lá quanto tempo vai durar - nosso país podendo ficar a "Deus-dará", e onde está nosso Chefe de Estado? Em qualquer país, menos aqui.

O representante máximo de nossa Nação só visita o Brasil de quinze em quinze dias pois a Carta Magna assim o obriga, de outra forma nem esta frequencia se manteria. Porém como todo bom brasileiro não ligamos a mínima para isso, ele tirou a sorte grande, ele é a nossa presença no mundo, é ele que faz com que o Brasil seja reconhecido mundialmente. Mas reconhecido de que forma? Como o país de gafes de um presidente tresloucado ou como o país em que a crise mundial chegou como uma "marolinha"?

Não nos interessa, pois não gostamos de política e nem de suas complicações. O que gostamos sim é de ver o presidente norte-americano matando mosca num programa de televisão e olhando para os atributos físicos de uma estudante Brasileira. Falando nisso, alguns desconhecem esta informação, mas essa estudante - Mayara Tavares, representante brasileira do UNICEF -, a exemplo de nosso querido Chefe de Estado, também veio de família pobre e humilde. Este fato, diferentemente do ocorrido na vida daquele, não a impediu de estudar. No vilarejo onde mora não há Escola e, mesmo tendo que viajar quilômetros em busca de educação, não contentou-se em ser uma mera agitadora das massas, mas preferiu investir naquilo que de mais precioso ela tem - não, não são seus atributos físicos, mas seus atributos intelectuais.

Mayara, o Brasil precisa sim é de um presidente como você. Conte com meu voto.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Next Best Drug

All that I do comes back to you
So I'll just think about you til there's nothing new in my head
All I can do is try not to screw this up again and just be friends
I'd rather be dead
(Butch Walker)
*

Estar apaixonado, gostando, encantado ou afim de alguém é quase como ser dependente de drogas. Apesar de eu não usar nenhuma, tenho acreditado mais e mais nisso, pois quanto mais intenso é o sentimento, transitando crescentemente pela escala citada ali (do último ao primeiro), mais real isso me parece.

Tudo começa quando uma simples e corriqueira troca de beijos passa a fazer sentido, lá no fundinho. Quando o beijo deixa de ser um beijo para ser aquilo que traz à tona uma série de idéias perdidas, ora velhas esquecidas, ora recém-tidas. "Perdidas" no sentido de estarem desorientadas, desbalanceando o norte, "jamming the radar". Depois de toda a sequência natural desencadeada pelo beijo, volta-se para casa com aquele sentimento de plenitude, aquele frio na barriga e formigar do pés que nada diz além de "como foi legal", embora introduza o inferno que espreita e se mostra dominante à medida que as horas passam.

E é como o viciado em heroína, que se sente completo no momento em que injeta uma dose em suas veias e faz com que o mundo inteiro ao seu redor pare. Os problemas não mais existem, o mundo não mais é um lugar ruim, contanto que a droga esteja em seu sistema, atuando, fazendo seu efeito. E quando ela cessa de o fazer "bem" e passa a fazer mal, o vazio toma conta e traz consigo a necessidade de mais uma dose. Só mais uma. Ele jura que para depois dessa. E ele perde o sono enquanto não a tem. E ele não consegue tirá-la da cabeça. E ele tenta se destrair, se ocupar com outras coisas, com as coisas que devem ocupá-lo diariamente. Mas ela fica ali, rondando, povoando sua mente, traduzida no desejo de querer mais, de precisar de mais. Afinal, foi bom com ela e tudo que é bom merece reprise. E sem ela tudo passa a parecer mais e mais sem cor, conforme os dias vão indo embora. E a espera quase o mata. A impossibilidade de colocar data e hora em uma próxima vez acaba com ele aos poucos. E não deveria ser tão complicado, afinal ele só quer mais uma dose... "One more fix"... Só que sempre é.

E quando ele finalmente tem a próxima dose, repete-se o ciclo. O tempo, porém, apresenta a diferença. Ele se torna mais curto para a tolerância do quanto ele aguenta sem ela. E ela povoa a mente dele ocupando ainda mais espaço, tirando o sono, invadindo sonhos, atrapalhando a tranquilidade. Deixa ele sem ar, o impossibilita de reconhecer outros rostos na rua, pois só vê o dela. E prende a respiração e pula de cabeça nesse mar revolto, de onde nem tem tanta certeza se sairá vivo. Prende a respiração e estende a mão, na esperança de que ela corresponda e lhe dê mais uma dose. Isso se ela der. Em muitos casos, perde-se o fôlego e morre-se afogado antes mesmo da segunda dose, pois aquilo sempre fez mais sentido para ele e somente para ele.

É. Gostar de alguém é uma m...

I need my next fix...

*Tradução: Tudo que faço acaba em você, então vou pensar em você até não ter mais nada em minha cabeça. Tudo que posso fazer é tentar não estragar tudo de novo e voltar a ser só amigo. Prefiro morrer.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

A vida é a Véspera da morte

Falar o que eu penso a respeito da Véspera é fácil e difícil ao mesmo tempo. Clichê? Talvez... mas realidade.
Eu me pego dizendo isso sempre que me encontro com a banda: a Véspera é a melhor banda de rock de Porto Alegre. Exagero? Pra eles, talvez... Porque são humildes, pés no chão e sabem que ainda podem absorver muita coisa nova e evoluir. E isso é ótimo! Melhor do que se aceitassem o que eu digo e se dessem por satisfeitos.
Mas não escrevo estas linhas como o amigo que sou, e sim como fã confesso. E para os meus ouvidos de fã, de mero ouvinte, espectador, a Véspera é o que há de melhor no dito "rock gaúcho" (e nem sei se a banda se enquadra nesse rótulo, dadas as características atuais dele) e arrisco a dizer que no rock nacional também. Inútil fazer comparações que não levam a nada. Acho que a banda vai além dos rótulos e tendências. A Véspera é vida inteligente, é ar puro, é brilho nos olhos em meio a um imenso mar de futilidade, poluição intelectual e opacidão que é a nossa música de consumo hoje. Nem mesmo os ditos "intelectuais" da atualidade (sem nomes aqui, mas se tu não lembrar de uma menina de 15 anos que trepa com um trintão e um bando de nerds de Cuiabá que pensam que fazem folk-cabeça, entre outros, não sei de mais nada... hehehe) são páreo para os versos tremendamente bem escritos, os riffs, acordes, solos, batidas, arranjos e notas perfeitamente entonadas do Lucídio, do Marcelo, do Bonjour, do Renato e do Camino.
A Véspera é a melhor banda de rock desta cidade e uma das melhores do país por tantos motivos... Pelos temas que escolhem para cantar sobre, com os quais todos conseguimos nos identificar e, se cantamos junto, é porque falam de nós e não pelo simples fator "chiclete".
Pela riqueza de detalhes, cuja coleção de elementos aumenta sempre, à medida que agregam novas influências. Tudo com a supervisão de uma coisinha chamada "bom gosto", que é meio rara no rock e pop brasileiro.
Pelo talento e o tino de fazer somente aquilo que está ao seu alcance e fazê-lo bem. Sem exageros ou fome de soar complexo o tempo todo. Lucídio atinge notas altíssimas, mas é na simplicidade que sua voz cativa a quem ouve. É na emoção que passa ao interpretar as canções, sabendo exatamente que tipo de clima criar. O mesmo acontece com as guitarras do Marcelo e do Bonjour, nos baixos do Camino e na bateria do Renato (que sei bem, é capaz de muito). Todos estes instrumentos encontram na simplicidade um aliado à criatividade dos integrantes e o resultado é original, empolgante e capaz de trazer à tona as mais diversas sensações.
Acho que um dos sentimentos mais fortes que se apoderam de mim quando escuto a Véspera é um misto de prazer e tormenta.
Prazer por ver que a cada música nova eles se tornam mais e mais inspirados e inspiradores. Ver que cada mudança que fazem nas músicas é para melhor. Ver que cada idéia incorporada resulta em uma viagem dentro de um universo difícil de explicar com palavras, mas que ao fechar de olhos nos deixa envolto e, quanto mais estivermos entregues, mais emocional, profunda e bonita se torna a trajetória.
E tormenta por não entender o que leva o resto das pessoas a preferirem a menina e o pseudopedófilo, ou os portoalegrenses que não lavam o cabelo e usam o terno do avô quando era adolescente, ou a moça das pernas musculosas e definidas, que pula o tempo inteiro e canta sobre poeira levantando ou algo raso desse tipo.
Acredito, de verdade, que o dia que eu acordar, olhar à minha volta e ver mais pessoas envoltas no intenso "abraço" sonoro que é a Véspera, será um dos dias mais felizes da minha vida.


Conheça eles:
Website
MySpace

*Ou apareça toda a quinta-feira no Art&Bar (Silva Jardim, 16 - quase esquina com a Plínio).

domingo, 21 de setembro de 2008

Se você quiser tomar banho de chapéu...



Estava pensando sobre várias coisas nestes dias e, em meio a uma tonelada de papéis, à leituras diversas sobre o tema que resolvi investigar, sobre as coisas que vejo na rua, sobre as imagens e também sobre este nosso espaço chamado "semeuhitlerfalasse".

Várias coisas me ocorreram, principalmente acerca da função que o mesmo desempenha, se é que este necessariamente uma função (ou muitas funções ao mesmo tempo, ou nenhuma função para alguns) e o que eu pude precisar é o fato de que, por mais que algumas pessoas tenham adotado este espaço como leitura recreativa, ou por mais que meu amigo Luis e minha amiga Karina (com os quais estou em dívida devido à correria que eu esteja vivendo no momento) se utilizem deste espaço - que nós mesmos nos presenteamos - para comentar algum fato que mereça algum enfoque, para fazer um desabafo, para idolatrar algum personagem que gostamos ou criticar o status quo que nos incomoda na sociedade, ou qualquer outro motivo qualquer, o que mais me agrada é o fato de não ter que fazer isso dentro de uma linha editorial e nem mesmo dentro de uma periodicidade.
Por que eu acho isso importante?

No que me diz respeito, principalmente pelo fato de o que eu escrevo só tem que ser fiel a mim mesmo e às coisas que eu acredito. Posso não concordar com a adulação a alguma celebridade por parte de um dos meus colegas, mas defendo o direito que estes tem de se expressar. Creio que desta maneira o diferencial deste espaço justifique-se na sinceridade dos textos aqui postados, textos estes que, embora algumas vezes possam proporcionar algum entretenimento, não encontram sua finalidade somente neste aspecto.

Creio que resida aí o elo de ligação prático acerca do tema da hipocrisia, proposto pelo Luis. Muitas vezes, por exemplo, gostamos – ou acreditamos gostar - de algo ou de alguém para que o olhar do outro não nos “julgue mal”, este fenômeno – que foi apelidado pelo velho do charuto como “superego” -, talvez seja um dos grandes entraves, pois quem entre nós não almeja ser aceito? Quem jogar a primeira pedra é mentiroso.

Talvez meu modo de ver as coisas seja o errado (ou até mesmo certo), mas dane-se é o meu modo de ver, minha ideologia e as coisas que eu acredito que estão em jogo. Por isso não importa o que você acredita, importa sim que você acredite em algo. E parafraseando ou outro velho destrambelhado, “eu quero dizer exatamente o oposto do que eu disse antes ...”

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Hipocrisia (eu quero uma pra viver)

Hoje eu descobri que eu sou um grande hipócrita. Devo ser. Desses que se gabam de ser tão diferentes das demais pessoas, mas que no fundo querem a mesma coisa que todas elas. Desses que listam suas qualidades como se fossem os únicos no mundo que as portam. Desses que criaram uma série de pré-requisitos para ser amado e, em conseqüência disso, não encontram amor. Devo ser. Desses que clamam merecer o amor de uma menina diferente, mas querem na verdade uma menina comum, pois sabem que meninas diferentes são sinônimo de problema. Desses que estufam o peito para dizer o quanto não dão importância para o que o mundo pensa de si, mas que morrem de medo da simples idéia de ser odiado por alguém. Devo ser.

Um hipócrita. Desses que não perdem seu tempo lutando quando sabem que a batalha está perdida. Mesmo se o coração está mandando lutar. Desses que fingem esquecer, mas lembram e convivem com a dor disso silenciosamente. Devo ser.

Um grande hipócrita que ainda pensa no que já deveria estar morto e enterrado. E lamenta o fato de não ter poder nenhum para mudar a situação.

É. Devo ser.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Sem título (a.k.a. Um longo e indignado retorno)



No DVD do Matchbox Twenty, Rob Thomas aponta uma grande verdade ao dizer: "Quando a gente vai ficando velho, percebe que a coisa mais valiosa que temos é o nosso tempo e, especialmente, como investimos esse tempo. Muito obrigado por investirem o de vocês com a gente e, num sábado à noite, isso tem o dobro do valor."

Tristes tempos estes em que, antes de investirmos nosso tempo - ou até algumas vezes perdê-lo - conversando com alguém no intuito de conhecer a pessoa, apelamos para os perfis das ferramentas de relacionamento na internet. É que hoje olhar o que a pessoa escreve - e como ela escreve - em sua listagem de gostos, desgostos, características, idiossincrasias, experiências presentes, passadas e - por que não? - futuras, facilita o processo servindo de filtro, lhe ajudando a decidir se a pessoa "serve" ou não para participar de sua vida seja como amigo ou, na grande maioria das vezes, par romântico.

Que atire a primeira pedra quem não faz isso atualmente. Quem, ao conhecer uma pessoa interessante, não vai lá ler o perfil e verificar as comunidades que ela participa, tentando assim traçar uma espécie de mapa do comportamento dela e ver se encaixa com o seu. Eu sei que eu faço, não nego. E, fazendo isso, volta e meia descubro algumas comunidades interessantes e outras que fazem meu estômago revirar.

Ok. Momento de "ligar" a sua tolerância quanto à futilidade intrínseca ao assunto agora, pois meu intuito com este texto NÃO É MUDAR O MUNDO. É apenas a minha opinião sobre algo que talvez nem seja tão importante ou relevante assim, mas ainda assim me faz querer escrever sobre.

O que acontece é que, durante um desses "pentes finos" em comunidades, descobri uma chamada "Eu odeio o M. Night Shyamalan", cuja descrição dizia que ele havia feito um único filme bom: The Sixth Sense, e ainda fazia campanha para que ele parasse de fazer mais filmes.

O fato é que M. Night Shyamalan talvez seja meu diretor contemporâneo favorito e para mim ele é um gênio. Sim, UM GÊNIO. O lançamento de um filme novo dele se compara ao lançamento de um novo álbum ou a um show de uma grande banda de rock para mim. A maneira como ele conduz as histórias QUE ELE PRÓPRIO ESCREVE DO NADA é simplesmente primorosa. Ele consegue me fazer ir despreparado ao cinema e sair de lá bobo, impressionado. Ele consegue variar os temas sobre os quais faz seus filmes e ainda assim deixar neles uma marca, uma identidade, a sensação de que você acabou de ver um filme do Shyamalan.

O grande problema não está nele e sim nas pessoas que tentam rotular o trabalho dele baseados no primeiro filme de sucesso, The Sixth Sense. É óbvio que a mídia sempre vai vender o novo filme dele como "o novo filme do diretor do Sixth Sense". É a estratégia de marketing mais velha que existe. Acontece que aí o povo vai esperando uma história exatamente igual, ou no mínimo dentro dos mesmos moldes do sucesso anterior. E ele, obviamente, não traz.

Agora, dizer que ele não fez nenhum filme bom depois de The Sixth Sense é simplesmente assinar atestado de estúpido. Isso me revolta.

Porque Unbreakable não é bom então? Um filme incompreendido, pois foi o sucessor de The Sixth Sense, que atraiu um grande público espírita aos cinemas brasileiros por lidar com o tema com maestria. O que aconteceu? A mídia nacional resolveu embarcar no sucesso anterior e tomar a grana dos espíritas de plantão os fazendo acreditar que Shyamalan seria um cineasta espírita, uma espécie de Zíbia Gasparetto hollywoodiana. Usaram então o infeliz título "Corpo Fechado" para a versão nacional de Unbreakable e os espíritas caíram todos feito patinhos, saindo do cinema decepcionados, pois era um filme de super-herói. Mas aí eu pergunto: de quem é a culpa por eles não terem gostado do filme? Do Shyamalan, que os traiu não fazendo mais um filme espírita (mais uma vez, "rótulo" dado a ele pelo povo, coisa que ele nunca clamou ser), ou da mídia, que vendeu Unbreakable de maneira enganosa? Não ser um filme que aborda o mesmo tema do anterior faz dele um filme ruim agora? Porque, me desculpem, mas eu vi o filme sem pensar em rótulo nenhum, simplesmente fui e vi, e adorei.

É um filme de super-herói diferente, profundo, tratando da batalha interior de um cara comum que se descobre portador de um dom especial e precisa decidir se realmente quer atender o chamado que se mostra claro à sua frente. Tudo isso em meio a uma crise familiar, característica presente em todos os filmes de Shyamalan, como prova de que seus personagens são "pessoas de verdade".

Tá certo, vai ver Unbreakable é ruim e eu tô louco. Bom deve ser o filme da Mulher Gato, ou da Elektra...

E Signs? Uma história de invasão alienígena sob a perspectiva de uma família comum e que ainda serve de contraponto à toda a questão de se ter ou não fé, acreditar ou não que talvez não existam coincidências na vida e que certas coisas acontecem conosco como forma de alerta. É um grupo de pessoas simples que não sabe pegar numa arma, pilotar um caça supersônico e jogar bomba atômica nos aliens. Uma familia que tem que lidar com o horror que se mostra presente enquanto ainda lida com o fantasma de um horror passado. Um filme de alienígenas sob uma perspectiva complexa, nova e nunca antes explorada.

É... talvez seja um filme ruim sim. Talvez bom seja Independence Day mesmo...

Que tal The Village? Esse dá pano pra manga! Graças a quem? À mídia, novamente. À mídia e ao quão docemente previsível o público médio é. Porque os anúncios comerciais sobre The Village pediam para que ninguém contasse o final, indicando que algo extremamente surpreendente viria. E realmente é surpreendente, só que não da maneira que as formiguinhas humanas previsíveis construíram de antemão em suas cabeças. Na minha opinião, é ainda MAIS SURPREENDENTE que isso.

Uma história de época que se passa em um vilarejo isolado por uma floresta onde, supostamente, vivem monstros. Estes monstros fizeram um pacto com os anciãos, do tipo "não me incomoda que eu também não te encho o saco". Princípio básico do lobo mau nas histórias infantis: impedir as crianças de entrarem na floresta. Na época em que as histórias infantis foram criadas, o perigo de crianças adentrarem as florestas eram os caçadores, que lá ficavam meses a fio procurando alimento para trazer de volta à comunidade e, no desespero, poderiam usá-las como tal. Na história arquitetada por Shyamalan o perigo era simples: as crianças iam ver que o vilarejo era falso e que havia civilização moderna além da floresta. E o espectador, por sua vez, vê que o filme não é de época e sim uma resposta à violência urbana dos dias de hoje. Num mundo tão cruel, pessoas que perderam entes queridos resolveram levar suas vidas e construir um novo mundo de mentira para proteger suas novas pessoas amadas (filhos, netos) de um destino igualmente horroroso na mão de pessoas violentas que nada têm a perder. Os monstros, obviamente falsos, garantiam a veracidade da fábula inventada, mas também foram os causadores da decepção do público, que esperava algo IMPRESSIONANTE e falhou em perceber que um filme que mostrou desde o primeiro minuto lidar com o sobrenatural e na verdade era absolutamente desprovido de sobrenaturalidade é que era a grande e exacerbante surpresa.

Mas quem sou eu pra dizer que The Village é bom? Bom mesmo é Pânico Na Floresta...

E quando a gente pensa que não há mais como Shyamalan ser incompreendido, ele brinda o mundo com Lady In The Water. Agora sim! Tudo que The Village não tinha de sobrenatural e fantasioso, este tem! É uma fábula. Uma linda e extremamente bem escrita fábula, que Shyamalan tirou de lugar nenhum, dentro de sua própria cabeça. E é incrível como ela é cheia de detalhes! A história é sobre uma Narf, uma espécie de princesa do mundo das águas e da relação que ela tem com os humanos. Ela vem para alertar aquele que um dia vai mudar o mundo com um livro que escreve, interpretado pelo próprio Shyamalan. Um papel um tanto importante e arriscado para ele mesmo interpretar, mas ei, o filme é dele... A criatura precisa ser levada embora numa noite específica, por um pássaro místico, porém há monstros que espreitam, tentando matá-la e impedir sua volta. Tudo isso se passa em um condomínio residencial onde o zelador, que vive uma fase de busca interior e superação de traumas passados, acha um propósito e um rumo para a própria vida ao ajudá-la.

E aí o mesmo público que sentiu falta da fantasia, do sobrenatural no filme anterior, reclamou que não gostou deste porque é "muito fantasioso".

É porque Lady In The Water deve ser, na verdade, péssimo. Filme bom é Mar em Fúria...

E o mais recente filme dele então? The Happening... Em tempos de preocupação com o meio-ambiente, nada mais oportuno do que criar uma história onde as plantas se vingam, não é? E é tão real e possível de acontecer, que assusta. As pessoas começam a perder os sentidos, coordenação, habilidade de fala e passam a provocar a própria morte, pois estão desprovidas do senso de preservação, que as impediria de cometer atos perigosos e danosos. Inicialmente, pensa-se tratar de um ataque terrorista, com alguma espécie de droga liberada no ar. Porém, ao longo do filme percebemos que são as plantas que liberam a toxina causadora do efeito, sempre que se sentem ameaçadas com muitos humanos por perto. E Shyamalan conta a história, que não tem tantos detalhes quando seu trabalho anterior, através de um casal em crise, que encontra na vontade de sobreviver uma aliada para reconstruir a vontade de viver juntos. E ele nos deixa tensos na cadeira durante toda duração do filme, com a plena noção de que um destino assim para a humanidade não é inteiramente absurdo e impossível, graças às misturas químicas das últimas décadas. Só que, claro, The Happening é um filme violento, que usa recursos de filmes de terror sanguinolentos para ilustrar as mortes. E o público é superficial e muitas vezes não consegue ver além das cenas de pessoas enforcadas, membros dilacerados, corpos projetados de prédios, pulsos cortados e outras atrocidades que são necessárias para que Shyamalan conte a história como ela deve ser contada.

Porque, tá certo, The Happening é uma porcaria. Jogos Mortais é que é um filmão...

Para mim, falar que Shyamalan não deveria fazer filmes é a mesma coisa que falar que você é burro. Ele é um dos melhores cineastas contemporâneos e certamente é o que mais tem conteúdo, no sentido de que escreve, dirige e produz seus próprios filmes. Só que ele não tem culpa se algumas pessoas são rasas e pré-determinadas a não entender que ele não segue uma única linha, um único gênero de filmes. Ele não é um cineasta de terror, ou de suspense, ou de comédia, ou de fantasia, ou de drama. Ele conta a história que estiver afim de contar, da maneira que acha melhor contar e a melhor maneira de aproveitar bem o entretenimento que ele oferece é ir ao cinema totalmente desprovido do famoso "tomara que esse filme seja assim..." e simplemente sentar e deixar o cara te contar a história.

Não, não vai ser igual ao The Sixth Sense, ele não vai fazer a seqüência deste título e muito provavelmente nem terá o mesmo formato ou temática.

Gostar e entender Shyamalan é saber disso e aceitar. Se você não aceita, não é culpa dele. Espero que ele ainda nos presenteie com milhares de novas histórias, pois não é ele quem deveria parar de fazer filmes e sim quem não gosta dele que deveria parar de ir ao cinema.

Moral da história: não dou crédito pra quem não gosta de M. Night Shyamalan.

sábado, 5 de julho de 2008

Enquanto você dormia





Um estacionamento sombrio, úmido e congelante. Um homem com aproximadamente quatro décadas de idade que vigiava nervosamente os segundos escapar por entre os ponteiros de seu relógio. Ele fitava cada centímetro do lugar enquanto a apreensão invadia-lhe a alma. Em outra situação ele não negociaria com aquele tipo de gente - era um homem destemido e correto -, mas as esquinas do labirinto onde se enfiara haviam desembocado nesta encruzilhada.

Os coiotes geralmente atacam os mais fracos do bando. Desta forma atacaram-lhe naquele que, talvez, represente seu único ponto vulnerável. O dilema que lhe fora imposto corroia-lhe a alma e a sensação de impotência fazia com que sua cólera somente aumentasse. Mas estava com as mãos atadas, não podia pôr em risco aqueles que eram seus bens mais preciosos – perdê-los seria como perder parte de si, não suportaria a dor.

Olhou para seu relógio. Eles estavam demorando. Suas mãos suadas quase não agüentavam com o peso da maleta preta que carregava. Ainda não acreditava que estava colaborando com pessoas daquela estirpe. Tinha mais medo de sua reação ao vê-los com seu pequeno, do que qualquer outra coisa que pudesse acontecer. Faria o máximo para ficar calmo, tudo correria bem.

O roncar de um motor de uma limusine preta rasgou o silêncio daquele cubículo. A violência do facho de luz desferido pelos faróis em seu rosto o cegou momentaneamente. Tudo aconteceu muito rápido. Olhou para trás e avistou seu carro onde sua princesinha dormia, alheia ao que estava prestes a acontecer e, ao retornar seu olhar contra a limusine finalmente o vê. Ele está saudável, está vivo e parece bem. Mal conseguira ouvir a exclamação palavra “papai” dos lábios do pequenino, o a sensação de alívio interrompeu-se com estrondo que finalizou o encontro. Agora restara a escuridão e o nada. Um homem de aproximadamente quatro décadas de idade encontrado morto num estacionamento do subúrbio. Menina encontrada abandonada em um carro no mesmo local. – foi a manchete do jornal local no dia seguinte.

terça-feira, 6 de maio de 2008

Recordar e viver...


Lembro com uma certa nostalgia saudosista os tempos áureos e meteóricos deste blog – que chegou a ter pelo menos uma meia dúzia de posts em uma semana - antes da viajem do saudoso amigo Luis para a fazenda do Tio Sam. Agora vejo esta casa, que outrora era encerada todos dias, repleta de teias de aranha e com algumas manifestações de visitantes sobre a falta de atualização e sobre a caduquice dos textos que aqui se apresentam.
São múltiplos os motivos que me afastam, espero que temporariamente, de meu compromisso com o “semeuhitlerfalasse”, um deles – que eu avalio como sendo o maior de todos – justifica-se no fato de eu estar finalmente cumprindo com minhas responsabilidades acadêmicas e estar me debruçando no fazer de meu tão tenebroso TCC. É mesmo, por trás destas três ingênuas letrinhas esconde-se um mastodonte com o qual estou tendo que me degladiar dia após dia. Afora isso varias reviravoltas pessoais – afinal de contas, enquanto isso, vamos vivendo do jeito que sabemos.
Quanto aos meus queridíssimos colegas, tenho certeza de que cada um deles tem suas “justas justificativas” sobre a ausência de seus textos aqui neste nosso espaço. Não há nada que não se curve ao defrontar-se com um bom argumento. Mas que ainda resta aquela saudade e aquela nostalgia, disso não resta duvidas.

sábado, 8 de dezembro de 2007

howdy-ho!!!!

Queridoes, ja estou em Grapevine! O mais novo correspondente internacional do blog ja ta na area!
Perdoem o portugues escroto, porque teclado de americano nao tem acento... hahaha
Bom, vamos do comeco entao: deu tudo mais do que certo! Cheguei em Guarulhos la pelas 13h30, porque a porra do voo atrasou pra caramba (quem tava la no aeroporto me dando tchau viu...). Dai resolvi matar tempo indo no cinema, so que nao tinha cinema no aeroporto (Cristiano, vou comer teu cu qdo eu voltar!!!), dai tive q pagar 35 mangos pra ir ate o shopping pra comer alguma coisa e ver um filme. O bom eh q na volta rolou transporte gratis pro aeroporto. Ta, cheguei no aeroporto e tinha uma fila do tamanho do mundo pro check-in da American Airlines... mil anos depois, fiz o check in e entrei em outra fila ainda mais fenomenal pra entrar no saguao de embarque. Beleza... oitenta anos depois, entrei no aviao! Eu tava com uma galerinha massa de POA q foi pro Hawaii... Entao todo mundo comecou a se ajeitar no aviao e o capitao avisa q eles perderam contato com o radar e que a gente pode demorar de 5 minutos a 1 hora pra decolar. Ficamos la, parados, esperando a volta do tal contato com o radar. Pensei "foda-se! vou dormir!" e dormi. Acordei uma hora depois (sem mentira, UMA HORA parados dentro da merda do aviao) com a aeromoca mandando ajeitar a poltrona pq a parada ia decolar... hehehehe O voo, que durou 10 horas (!!!), foi tranquilao!
Cheguei no aeroporto de Dallas/FtWorth la pelas 7 e pouco da manha e dai mais fila! Fila pra imigracao, fila pra pegar a mala e fila pra sair pelo portao de desembarque. Me despedi da galerinha q ia pro Hawaii (pois eles tinham q embarcar num outro aviao, no lado oposto) e fui ligar pro sponsor (a empresa q faz a especie de meio-de-campo entre o hotel q eu vou trabalhar e eu). Qual nao foi minha surpresa qdo o sponsor era um brasileiro??? hehehehe
O cara, que se chama Alexandre, me deu a barbada de esperar por uma van q ia me trazer de graca ate um hotelzinho chamado Days Inn, no qual eu me encontro agora escrevendo isso pra voces e tomando um cafe fraco e sem gosto... hahahaha Enfim, cheguei aqui e o cara me recebeu triii bem, falou que ja tem um ape pra mim e pra galera q vai morar comigo e que o Jean, que eh o carinha de POA q veio antes de mim, ja ta la. Normalmente, quando se aluga um ape aqui nos EUA, tu tem q pagar um 'deposit', que eh uma grana adiantada pro caso de o lugar precisar de algum tipo de manutencao depois q tu vai embora. Se nao precisar, eles te devolvem a grana. Eh mais ou menos o valor do aluguel inteiro. Mas a barbada eh que esse ape q o Alexandre descolou nao precisou do deposit. Ele so me pediu pra ficar hospedado aqui hoje porque ainda preciso comprar colchao e o caramba pra eu poder ir morar la no ape da gurizada. Vao ser 5 pessoas ao todo, tudo brasileiro, morando la. Mas vai ter uns peruanos e chilenos na vizinhanca. Coisa de deus!!! heheheheh Entao me hospedei aqui, cheguei, tomei cafe da manha (ovo mexido e batata frita! hahahahaha) e tomei a ducha q pareceu a melhor da minha vida e vim pra ca dar sinal de vida!Ate agora ta tudo ok e muito MUITO facil! Acho q vou gostar bastante disso aqui...


E eh claro, ainda preciso ver qualeh das cheerleaders do Dallas Cowboys, mas tem tempo pra isso ainda... ehehehe


*infelizmente, realizar as montagenzinhas com fotos do hitler nos meus posts nao sera possivel por um tempo...

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Até logo!

Começa agora minha função de correspondente internacional deste blog...

Será que há algo que eu gostaria que tivesse sido diferente? Claro que há.
Medos que não eram meus, situações que poderiam ter sido mais simples, mágoas que acabaram ficando tatuadas... Mas nada disso importa, pois nada disso simboliza arrependimento.
Quase não tenho arrependimentos destes últimos 3 anos pra cá. Seria hipócrita se disse que não tenho NADA de arrependimentos, mas ok, são poucos.
E agora muita coisa vai mudar.
Isso não se trata do que eu gostaria que tivesse mudado e não mudou, mas sim do que eu quero que aconteça daqui pra frente. É uma wishlist do meu futuro.

Texas aí vou eu.
Novos cenários, outra língua, outras pessoas, situações de aperto, desconforto, desespero, até.
Eu quero é crescer. Pra olhar pra trás e ver que a criança ainda está lá. E é só chamar que ela vem. E ver que todas as pessoas que eu amo ainda estão lá. E eu tô levando elas comigo sempre. Na cabeça e no coração.
Tudo que eu quero é voltar o mesmo de sempre, mas com idéias novas e um pouquinho mais de bagagem, pra que EU possa continuar o mesmo, mas minha vida não.

E, claro, quero ver se as cheerleaders do Dallas Cowboys são realmente tão gostosas quanto dizem...