sexta-feira, 25 de julho de 2008

Sem título (a.k.a. Um longo e indignado retorno)



No DVD do Matchbox Twenty, Rob Thomas aponta uma grande verdade ao dizer: "Quando a gente vai ficando velho, percebe que a coisa mais valiosa que temos é o nosso tempo e, especialmente, como investimos esse tempo. Muito obrigado por investirem o de vocês com a gente e, num sábado à noite, isso tem o dobro do valor."

Tristes tempos estes em que, antes de investirmos nosso tempo - ou até algumas vezes perdê-lo - conversando com alguém no intuito de conhecer a pessoa, apelamos para os perfis das ferramentas de relacionamento na internet. É que hoje olhar o que a pessoa escreve - e como ela escreve - em sua listagem de gostos, desgostos, características, idiossincrasias, experiências presentes, passadas e - por que não? - futuras, facilita o processo servindo de filtro, lhe ajudando a decidir se a pessoa "serve" ou não para participar de sua vida seja como amigo ou, na grande maioria das vezes, par romântico.

Que atire a primeira pedra quem não faz isso atualmente. Quem, ao conhecer uma pessoa interessante, não vai lá ler o perfil e verificar as comunidades que ela participa, tentando assim traçar uma espécie de mapa do comportamento dela e ver se encaixa com o seu. Eu sei que eu faço, não nego. E, fazendo isso, volta e meia descubro algumas comunidades interessantes e outras que fazem meu estômago revirar.

Ok. Momento de "ligar" a sua tolerância quanto à futilidade intrínseca ao assunto agora, pois meu intuito com este texto NÃO É MUDAR O MUNDO. É apenas a minha opinião sobre algo que talvez nem seja tão importante ou relevante assim, mas ainda assim me faz querer escrever sobre.

O que acontece é que, durante um desses "pentes finos" em comunidades, descobri uma chamada "Eu odeio o M. Night Shyamalan", cuja descrição dizia que ele havia feito um único filme bom: The Sixth Sense, e ainda fazia campanha para que ele parasse de fazer mais filmes.

O fato é que M. Night Shyamalan talvez seja meu diretor contemporâneo favorito e para mim ele é um gênio. Sim, UM GÊNIO. O lançamento de um filme novo dele se compara ao lançamento de um novo álbum ou a um show de uma grande banda de rock para mim. A maneira como ele conduz as histórias QUE ELE PRÓPRIO ESCREVE DO NADA é simplesmente primorosa. Ele consegue me fazer ir despreparado ao cinema e sair de lá bobo, impressionado. Ele consegue variar os temas sobre os quais faz seus filmes e ainda assim deixar neles uma marca, uma identidade, a sensação de que você acabou de ver um filme do Shyamalan.

O grande problema não está nele e sim nas pessoas que tentam rotular o trabalho dele baseados no primeiro filme de sucesso, The Sixth Sense. É óbvio que a mídia sempre vai vender o novo filme dele como "o novo filme do diretor do Sixth Sense". É a estratégia de marketing mais velha que existe. Acontece que aí o povo vai esperando uma história exatamente igual, ou no mínimo dentro dos mesmos moldes do sucesso anterior. E ele, obviamente, não traz.

Agora, dizer que ele não fez nenhum filme bom depois de The Sixth Sense é simplesmente assinar atestado de estúpido. Isso me revolta.

Porque Unbreakable não é bom então? Um filme incompreendido, pois foi o sucessor de The Sixth Sense, que atraiu um grande público espírita aos cinemas brasileiros por lidar com o tema com maestria. O que aconteceu? A mídia nacional resolveu embarcar no sucesso anterior e tomar a grana dos espíritas de plantão os fazendo acreditar que Shyamalan seria um cineasta espírita, uma espécie de Zíbia Gasparetto hollywoodiana. Usaram então o infeliz título "Corpo Fechado" para a versão nacional de Unbreakable e os espíritas caíram todos feito patinhos, saindo do cinema decepcionados, pois era um filme de super-herói. Mas aí eu pergunto: de quem é a culpa por eles não terem gostado do filme? Do Shyamalan, que os traiu não fazendo mais um filme espírita (mais uma vez, "rótulo" dado a ele pelo povo, coisa que ele nunca clamou ser), ou da mídia, que vendeu Unbreakable de maneira enganosa? Não ser um filme que aborda o mesmo tema do anterior faz dele um filme ruim agora? Porque, me desculpem, mas eu vi o filme sem pensar em rótulo nenhum, simplesmente fui e vi, e adorei.

É um filme de super-herói diferente, profundo, tratando da batalha interior de um cara comum que se descobre portador de um dom especial e precisa decidir se realmente quer atender o chamado que se mostra claro à sua frente. Tudo isso em meio a uma crise familiar, característica presente em todos os filmes de Shyamalan, como prova de que seus personagens são "pessoas de verdade".

Tá certo, vai ver Unbreakable é ruim e eu tô louco. Bom deve ser o filme da Mulher Gato, ou da Elektra...

E Signs? Uma história de invasão alienígena sob a perspectiva de uma família comum e que ainda serve de contraponto à toda a questão de se ter ou não fé, acreditar ou não que talvez não existam coincidências na vida e que certas coisas acontecem conosco como forma de alerta. É um grupo de pessoas simples que não sabe pegar numa arma, pilotar um caça supersônico e jogar bomba atômica nos aliens. Uma familia que tem que lidar com o horror que se mostra presente enquanto ainda lida com o fantasma de um horror passado. Um filme de alienígenas sob uma perspectiva complexa, nova e nunca antes explorada.

É... talvez seja um filme ruim sim. Talvez bom seja Independence Day mesmo...

Que tal The Village? Esse dá pano pra manga! Graças a quem? À mídia, novamente. À mídia e ao quão docemente previsível o público médio é. Porque os anúncios comerciais sobre The Village pediam para que ninguém contasse o final, indicando que algo extremamente surpreendente viria. E realmente é surpreendente, só que não da maneira que as formiguinhas humanas previsíveis construíram de antemão em suas cabeças. Na minha opinião, é ainda MAIS SURPREENDENTE que isso.

Uma história de época que se passa em um vilarejo isolado por uma floresta onde, supostamente, vivem monstros. Estes monstros fizeram um pacto com os anciãos, do tipo "não me incomoda que eu também não te encho o saco". Princípio básico do lobo mau nas histórias infantis: impedir as crianças de entrarem na floresta. Na época em que as histórias infantis foram criadas, o perigo de crianças adentrarem as florestas eram os caçadores, que lá ficavam meses a fio procurando alimento para trazer de volta à comunidade e, no desespero, poderiam usá-las como tal. Na história arquitetada por Shyamalan o perigo era simples: as crianças iam ver que o vilarejo era falso e que havia civilização moderna além da floresta. E o espectador, por sua vez, vê que o filme não é de época e sim uma resposta à violência urbana dos dias de hoje. Num mundo tão cruel, pessoas que perderam entes queridos resolveram levar suas vidas e construir um novo mundo de mentira para proteger suas novas pessoas amadas (filhos, netos) de um destino igualmente horroroso na mão de pessoas violentas que nada têm a perder. Os monstros, obviamente falsos, garantiam a veracidade da fábula inventada, mas também foram os causadores da decepção do público, que esperava algo IMPRESSIONANTE e falhou em perceber que um filme que mostrou desde o primeiro minuto lidar com o sobrenatural e na verdade era absolutamente desprovido de sobrenaturalidade é que era a grande e exacerbante surpresa.

Mas quem sou eu pra dizer que The Village é bom? Bom mesmo é Pânico Na Floresta...

E quando a gente pensa que não há mais como Shyamalan ser incompreendido, ele brinda o mundo com Lady In The Water. Agora sim! Tudo que The Village não tinha de sobrenatural e fantasioso, este tem! É uma fábula. Uma linda e extremamente bem escrita fábula, que Shyamalan tirou de lugar nenhum, dentro de sua própria cabeça. E é incrível como ela é cheia de detalhes! A história é sobre uma Narf, uma espécie de princesa do mundo das águas e da relação que ela tem com os humanos. Ela vem para alertar aquele que um dia vai mudar o mundo com um livro que escreve, interpretado pelo próprio Shyamalan. Um papel um tanto importante e arriscado para ele mesmo interpretar, mas ei, o filme é dele... A criatura precisa ser levada embora numa noite específica, por um pássaro místico, porém há monstros que espreitam, tentando matá-la e impedir sua volta. Tudo isso se passa em um condomínio residencial onde o zelador, que vive uma fase de busca interior e superação de traumas passados, acha um propósito e um rumo para a própria vida ao ajudá-la.

E aí o mesmo público que sentiu falta da fantasia, do sobrenatural no filme anterior, reclamou que não gostou deste porque é "muito fantasioso".

É porque Lady In The Water deve ser, na verdade, péssimo. Filme bom é Mar em Fúria...

E o mais recente filme dele então? The Happening... Em tempos de preocupação com o meio-ambiente, nada mais oportuno do que criar uma história onde as plantas se vingam, não é? E é tão real e possível de acontecer, que assusta. As pessoas começam a perder os sentidos, coordenação, habilidade de fala e passam a provocar a própria morte, pois estão desprovidas do senso de preservação, que as impediria de cometer atos perigosos e danosos. Inicialmente, pensa-se tratar de um ataque terrorista, com alguma espécie de droga liberada no ar. Porém, ao longo do filme percebemos que são as plantas que liberam a toxina causadora do efeito, sempre que se sentem ameaçadas com muitos humanos por perto. E Shyamalan conta a história, que não tem tantos detalhes quando seu trabalho anterior, através de um casal em crise, que encontra na vontade de sobreviver uma aliada para reconstruir a vontade de viver juntos. E ele nos deixa tensos na cadeira durante toda duração do filme, com a plena noção de que um destino assim para a humanidade não é inteiramente absurdo e impossível, graças às misturas químicas das últimas décadas. Só que, claro, The Happening é um filme violento, que usa recursos de filmes de terror sanguinolentos para ilustrar as mortes. E o público é superficial e muitas vezes não consegue ver além das cenas de pessoas enforcadas, membros dilacerados, corpos projetados de prédios, pulsos cortados e outras atrocidades que são necessárias para que Shyamalan conte a história como ela deve ser contada.

Porque, tá certo, The Happening é uma porcaria. Jogos Mortais é que é um filmão...

Para mim, falar que Shyamalan não deveria fazer filmes é a mesma coisa que falar que você é burro. Ele é um dos melhores cineastas contemporâneos e certamente é o que mais tem conteúdo, no sentido de que escreve, dirige e produz seus próprios filmes. Só que ele não tem culpa se algumas pessoas são rasas e pré-determinadas a não entender que ele não segue uma única linha, um único gênero de filmes. Ele não é um cineasta de terror, ou de suspense, ou de comédia, ou de fantasia, ou de drama. Ele conta a história que estiver afim de contar, da maneira que acha melhor contar e a melhor maneira de aproveitar bem o entretenimento que ele oferece é ir ao cinema totalmente desprovido do famoso "tomara que esse filme seja assim..." e simplemente sentar e deixar o cara te contar a história.

Não, não vai ser igual ao The Sixth Sense, ele não vai fazer a seqüência deste título e muito provavelmente nem terá o mesmo formato ou temática.

Gostar e entender Shyamalan é saber disso e aceitar. Se você não aceita, não é culpa dele. Espero que ele ainda nos presenteie com milhares de novas histórias, pois não é ele quem deveria parar de fazer filmes e sim quem não gosta dele que deveria parar de ir ao cinema.

Moral da história: não dou crédito pra quem não gosta de M. Night Shyamalan.

6 comentários:

Ana Karina Silva disse...

Luis, concordo em parte... acho sim os filmes dele criativos, mas achar que tudo sai da cabeça dele, q ele é um fenômeno não dá!
Qualquer autor de qualquer gênero artístico faz referências às histórias, imagens, seja lá o q for, de coisas que ele já viu. Toda a arte tem um tanto de "cópia". O cara é bom, é. Tanto que tá aí, fazendo filme e levando uma galera pro cinema... Agora, comparar os filmes dele com "Independence day", "Mulher-gato" e outros desse nível, péssimos, eu diria, faz-me acreditar que os filmes do Shyamalan seriam tão ruins quanto... mas eu entendi o q tu quiseste dizer... só tô cheia de opiniões hoje!!! hehehe...

ps: odiei "A vila"!!! :P

Luis Volkweis disse...

Eu "comparei" os filmes dele a esses filmes nojentos pq é essa a comparação que o povo faz, saca? Essa é a gaveta que o povo que não gosta dele coloca.

E qdo eu falei "da cabeça dele" quis dizer que ele não adapta nenhum texto de ninguém. Ele mesmo escreve seus próprios filmes. Ele não pega roteirista pra fazer isso pra ele.
Óbvio q ele tem referências e influências como qq outro artista.

Shyamalan é gênio e DEU!

E a Vila é FODA! Muito genial! hehehe

Anônimo disse...

Bah, esse teu post é simplesmente SENSACIONAL!!!! Esse diretor é ótimo!!! Sinceramente... Os filmes dele realmente surpreendem!

Agora... Eu gosto de "Jogos Motais", hahaha...

Marina Lombardi disse...

luis,
não li tudo mais esse foi o mega meu preferido até então. shyamalan pra mim sempre foi rei mas eu nunca consegui explicar pras pessoas de maneira adequada e meu argumento acabava sendo "meu! vc não entendeu o filme!" (indignada!).
mas enfim.
moral da história: vou direcionar essas pessoas que devo argumentos melhores pra cá.

=*

Anônimo disse...

ah, meu.... a única coisa q eu não curti n'a vila foi aquela ceguinha q tinha os reflexos do demolidor! aquilo foi o q deu uma matada no filme pra mim.. de resto.. eu achei muy massa (o q inclui seleção de atores, fotografia, sonoplastia, trilha sonora.. enfim.. td salvo a mina -q era pitéu, mas... pô..- nesses pontos é um dos melhores q eu já vi). e quanto a esse último (cujo nome em português acabou de escapar).. tá na lista.. na real.. eu só não vi ainda pq evito lugares cheios.. sabe como é.. =P

e pára de puxar o saco do shimiaman!.. vai ver titanic!
auehuaheae

Anônimo disse...

ai, as vezes é só questao de gosto...
nao de preconceito.

eu nem sabia quem era o diretor do sexto sentido, nem de signs, nem de unbreakable... mas detestei os 3 ultimos...
só nao gostei... nao estava esperando um novo 6° sentido... mas enfim...