sábado, 5 de julho de 2008

Enquanto você dormia





Um estacionamento sombrio, úmido e congelante. Um homem com aproximadamente quatro décadas de idade que vigiava nervosamente os segundos escapar por entre os ponteiros de seu relógio. Ele fitava cada centímetro do lugar enquanto a apreensão invadia-lhe a alma. Em outra situação ele não negociaria com aquele tipo de gente - era um homem destemido e correto -, mas as esquinas do labirinto onde se enfiara haviam desembocado nesta encruzilhada.

Os coiotes geralmente atacam os mais fracos do bando. Desta forma atacaram-lhe naquele que, talvez, represente seu único ponto vulnerável. O dilema que lhe fora imposto corroia-lhe a alma e a sensação de impotência fazia com que sua cólera somente aumentasse. Mas estava com as mãos atadas, não podia pôr em risco aqueles que eram seus bens mais preciosos – perdê-los seria como perder parte de si, não suportaria a dor.

Olhou para seu relógio. Eles estavam demorando. Suas mãos suadas quase não agüentavam com o peso da maleta preta que carregava. Ainda não acreditava que estava colaborando com pessoas daquela estirpe. Tinha mais medo de sua reação ao vê-los com seu pequeno, do que qualquer outra coisa que pudesse acontecer. Faria o máximo para ficar calmo, tudo correria bem.

O roncar de um motor de uma limusine preta rasgou o silêncio daquele cubículo. A violência do facho de luz desferido pelos faróis em seu rosto o cegou momentaneamente. Tudo aconteceu muito rápido. Olhou para trás e avistou seu carro onde sua princesinha dormia, alheia ao que estava prestes a acontecer e, ao retornar seu olhar contra a limusine finalmente o vê. Ele está saudável, está vivo e parece bem. Mal conseguira ouvir a exclamação palavra “papai” dos lábios do pequenino, o a sensação de alívio interrompeu-se com estrondo que finalizou o encontro. Agora restara a escuridão e o nada. Um homem de aproximadamente quatro décadas de idade encontrado morto num estacionamento do subúrbio. Menina encontrada abandonada em um carro no mesmo local. – foi a manchete do jornal local no dia seguinte.

Um comentário:

Anônimo disse...

amei o texto!!

pooooodre de dark! heheeh